Papa: proibir armas autônomas letais e proteger a dignidade humana
Francisco envia mensagem a encontro de líderes religiosos em Hiroshima, no Japão, que visa promover o desenvolvimento ético da inteligência artificial. O grupo assinou o “Apelo de Roma por uma Ética da IA”, iniciativa elogiada pelo Papa já que “somente juntos podemos construir a paz, graças também a tecnologias ao serviço da humanidade e no respeito de nossa casa comum”.
Andressa Collet – Vatican News
O Papa Francisco lançou uma mensagem na manhã desta quarta-feira (10/07) na rede social X em referência às palavras dirigidas a representantes religiosos do mundo inteiro reunidos em Hiroshima, no Japão, desde terça-feira (09/07): são mais de 150 participantes de 13 diferentes nações e 11 as religiões representadas no Encontro “Ética da Inteligência Artificial para a Paz”.
“Os líderes das religiões do mundo assinaram em Hiroshima o Apelo de Roma por uma Ética da IA. Somente juntos podemos construir a #paz, graças também a tecnologias ao serviço da humanidade e no respeito de nossa casa comum.”
LEIA TAMBÉM
10/07/2024
Em Hiroshima, religiões mundiais se comprometem com o Apelo de Roma da IA
O apelo foi lançado pela Pontifícia Academia para a Vida em fevereiro de 2020, juntamente com a Microsoft, a IBM, a FAO e o governo italiano. O documento visa fomentar uma abordagem ética da IA e promover, entre as organizações, governos e instituições, um sendo de responsabilidade compartilhada, a fim de moldar um futuro em que a inovação digital e o progresso tecnológico estejam a serviço da genialidade e da criatividade humanas, preservando e respeitando a dignidade de cada indivíduo, bem como a do planeta.
O grupo de líderes religiosos em Hiroshima, então, assinou o apelo conjunto em favor de um uso ético da IA em favor da paz e para proteger a dignidade humana, reforçando a mensagem do Pontífice ao recordar que “a inteligência artificial e a paz são dois temas de absoluta importância”, como teve a oportunidade de enfatizar também aos líderes políticos do G7 na cúpula de 14 de junho na cidade italiana de Borgo Egnazia. Em discurso pronunciado no painel sobre IA naquela ocasião, Francisco alertou sobre a importância estratégica de uma escolha que pode afetar a vida de muitas pessoas: “a máquina faz uma escolha técnica”, enquanto que “o ser humano, pelo contrário, não só escolhe como, no seu coração, é capaz de decidir”. Assim, “devemos ter bem claro que a decisão deve ser sempre deixada ao ser humano, mesmo sob os tons dramáticos e urgentes com que, às vezes, se apresenta na nossa vida”. E o Papa continua a mensagem ao encontro de Hiroshima, reforçando a reflexão já feita ao G7:
“Condenaríamos a humanidade a um futuro sem esperança se retirássemos às pessoas a capacidade de decidir sobre si mesmas e sobre as suas vidas, obrigando-as a depender das escolhas das máquinas. Precisamos garantir e proteger um espaço de controle significativo do ser humano sobre o processo de escolha dos programas de inteligência artificial: está em jogo a própria dignidade humana.”
Os participantes do encontro na cidade japonesa de Hiroshima
O encontro na simbólica Hiroshima
O Papa destaca a “importância simbólica” do encontro ser realizado em Hiroshima para se falar sobre inteligência artificial e a paz, já que foi uma das duas cidades atingidas por bombas atômicas no final da II Guerra Mundial, em 1945, num momento histórico de uso de armas nucleares durante uma guerra e contra alvos civis. E, já que “em meio aos atuais conflitos que abalam o mundo” se ouve falar dessa tecnologia, o evento que termina nesta quarta-feira (10/07) é de “extraordinária importância”, reitera o Pontífice, ao acrescentar:
“Ao elogiar essa iniciativa, peço que mostrem ao mundo que, unidos, exigimos um compromisso proativo para proteger a dignidade humana nesta nova temporada de uso das máquinas.”
A proibição das armas letais autônomas
Ao finalizar a mensagem aos representantes religiosos, Francisco reforça sobre a capacidade de união dos líderes mundiais no compromisso a uma “gestão sábia da inovação tecnológica” e reza “para que cada um de nós possa se tornar instrumento de paz para o mundo”. E, como fez à cúpula do G7, o Papa também insiste aos participantes do encontro de Hiroshima sobre a proibição de armas letais autônomas:
“É fundamental que, unidos como irmãos, possamos lembrar ao mundo que: num drama como o dos conflitos armados, é urgente repensar o desenvolvimento e o uso de dispositivos como as chamadas ‘armas autônomas letais’, a fim de banir a sua utilização, começando desde já pelo compromisso efetivo e concreto de introduzir um controlo humano cada vez mais significativo. Nenhuma máquina, em caso algum, deveria ter a possibilidade de optar por tirar a vida a um ser humano.”
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui
SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA GRANDE MISSÃO: AJUDE-NOS A LEVAR A PALAVRA DO PAPA A TODOS OS LARES
- Published in Padre Henrique Ney Soares Martins
Dia Mundial da Justiça Social: Por que estamos aqui se não para servir à humanidade?
No Dia Mundial da Justiça Social, a secretária geral da CIDSE (Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e a Solidariedade) recorda que toda decisão e cada nova política implementada têm um impacto na vida e nos meios de subsistência de outras pessoas, e que as múltiplas crises que enfrentamos hoje estão interligadas.
Francesca Merlo – Vatican News
Justiça Social significa igualdade e dignidade para todos. Significa que um sistema é colocado em prática não apenas para proteger, mas para auxiliar nas escolhas que as pessoas fazem, além de criar um ambiente que as mantenha seguras e as ajude a prosperar. O Dia Mundial da Justiça Social é celebrado anualmente em 20 de fevereiro e sua observância tem como objetivo fazer exatamente isso: lembrar, a cada ano, da necessidade de construir sociedades mais justas e equitativas.
Uma crise múltipla
Na linha de frente na batalha pela justiça social, a CIDSE (Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e a Solidariedade) é uma família internacional de organizações católicas de justiça social que trabalham juntas pela causa. Josaine Gauthier, secretária geral da CIDSE, explica que “as múltiplas crises com as quais lidamos no passado estão profundamente interconectadas”.
Hoje, o principal desafio que é enfrentado dentro desse âmbito, segundo Gauthier, “é a chamada pluri-crise: a perturbação climática, a extrema pobreza, a violência, a guerra e o conflito por recursos, gênero, desigualdade social e racial”, diz a secretária, acrescentando que todas são desencadeadas por “desequilíbrios de poder e uma cultura de desperdício. Estamos reconhecendo que na verdade é apenas uma crise interconectada, com sua origem nas relações entre humanos e todo o resto da criação”.
Apelos do Papa Francisco
“A cultura do desperdício”, como observa a Josaine, é um conceito frequentemente utilizado pelo Papa, que dedicou grande parte de seu pontificado a combater a indiferença global que causa injustiças. Em particular, Francisco apela continuamente pela proteção de nossa casa comum, ameaçada pelas mudanças climáticas, pelo zelo e acolhimento de migrantes e refugiados, e adverte contra o que descreve como “a globalização da indiferença”, pedindo aos países mais ricos que tomem medidas concretas para ajudar os pobres.
Falando sobre migração, Gauthier observa que quando as pessoas são forçadas a deixar seu país de origem, porque é inabitável e não oferece futuro, “estamos enfrentando uma crise de nossa própria moralidade”.
“Como podemos permitir que outros seres humanos fujam de suas casas devido às nossas próprias escolhas políticas e econômicas que os afetam e depois os rejeitamos quando atravessam a fronteira e precisam de nossa solidariedade?” ela pergunta, e rapidamente completa: “É apenas uma questão de justiça!”
Trabalhar juntos, pensar em todos
Josaine Gauthier convida a todos a enxergar o Dia Mundial da Justiça Social como uma oportunidade única para “fazer uma pausa e refletir sobre como tratamos uns aos outros, como podemos construir relações mais justas uns com os outros e com a vida neste planeta, que é nossa casa comum”.
O apelo do Papa Francisco pela justiça social e pelos direitos humanos, segundo a secretária da CIDSE, é “extremamente relevante”, e isso “deveria ser a mensagem mais importante e ressonante para os que estão envolvidos na política atualmente”. Gauthier acredita que as políticas devem sempre estar ligadas e enraizadas em como afetam a vida das pessoas, de todos, diariamente, porque, acrescenta, “para que estamos aqui se não for para servir à humanidade e torná-la um lar acolhedor e justo para todos?”
Por fim, Josaine enfatiza que isso “é algo sério” e que trabalhar juntos, pensando em todos, é uma responsabilidade comum e coletiva, que “o Papa Francisco não se cansa de nos lembrar”.
Obrigado por ter lido este artigo.
- Published in Padre Henrique Ney Soares Martins